Não sei o que é pior ter esperança que é uma droga alucinógena ou não ter nenhuma
Perdi todas as esperanças da minha vida
Se é que pode chamar isso de vida
Isso não é vida, isso que sou não é ser humano
É uma aberração da natureza
Como minha mãe sempre diz
Apenas um resto de aborto
Um erro da natureza que foi perversa em permitir que eu nascesse
Esse foi meu pior erro, a pior culpa que carrego
De ter nascido, de ter sobrevivido aquele aborto
Depois vem a culpa de ter sobrevivido a todas as torturas que fui submetidas na infância
Eu deveria ter me entregue a morte, não consegui,
Meu corpo sempre foi mais resistente do que minha vontade de morrer
Foram tantas vezes que tentei acabar com tudo
Só de cortes vem desde os sete anos
Aquela garotinha tenta suicídio aos nove anos
Uma aberração mesmo é o que sempre fui
Uma criança que se odeia dessa maneira só pode ser anormal mesmo
Eu sou aquela pessoa que só conseguiu o amor de uma pessoa
Mas deixei ele ir em direção a morte sem mim
É diante de todos odiado a aberração
Um louco conseguiu amar essa aberração
Mas a morte o levou, pois a aberração o deixou partir
Sou uma aberração que nem no sexo certo fez o favor de nascer
Que faz jorrar sangue de seus braços, suas pernas e seu pescoço dia a apos dia.
Uma aberração que já tentou de todas as maneiras acabar com a própria vida,
Mas sempre foi incompetente em todas suas tentativas
Sou aquela que nunca fez diferença para ninguém
Aquela que sempre saiu de qualquer lugar sem ser notada
Aquela que num grupo de três amigas sou aquela que não faz diferença
Alias não faço diferença para ninguém
Hoje sou uma indigente sem ninguém para reconhecer meu corpo
Sou aquela que jamais será feliz
Sou aquela que nunca será amada
Que não andará de mãos dadas com o namorado na rua
Que jamais receberá flores
Que jamais terá um anel de compromisso no dedo
Que jamais será apresentada pela família de seu namorado
Que ninguém vai acordar no meio da noite me ligando só para dizer que em ama
Nunca haverá aquele cara que falará de mim para os amigos babando
Que tenha orgulho de mim de falar de mim de me apresentar
Mas que motivos alguém terias para se orgulhar de mim?
Uma aberração dessas só tem que se ter vergonha mesmo
O telefone nunca tocará com alguém dizendo bom dia para mim
E muito menos flores ao lado da cama ao acordar
Eu não mereço nada disso, não mereço ser feliz
Mereço só ser odiada e judiada por todos
Nem morrer eu mereço, sou fadada a viver no sofrimento
Pois cometi o grande crime de sobreviver ao aborto
Mas um dia a morte virá
É o meu maior sonho
É o único sonho que sei que cedo ou tarde irá se realizar
Mas bem que eu tento todos os dias correr atrás desse sonho
Estou no meu limite
Meu corpo sangra de tantos cortes que faço nele
Mas nada se compara a alma mutilada pela culpa e sofrimento
Aprendi a me odiar sendo odiada e desprezada por todos
Como me odeio, como odeio viver
Maldito seja o dia que resolvi nascer
Maldita seja essa vida
Maldita a morte que nunca chega
Eu sou a única culpada por todo meus sofrimento
Pois como dizem a vítima sempre é a maior culpada
Então eu sou a unica culpada por tudo o que a vida me fez
Cada corte em meu corpo é uma culpa
Cada culpa é uma bomba de laminas que explode em um milhão pedaços dentro da minha alma.
Por isso não há mais limites para meus cortes
Nem para dor
Nem para sofrimento
Mas um dia a morte me libertará disso tudo
Clarisse Kempoviki
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